quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A COPA DO MUNDO DE 2014 EM NATAL/RN: Considerações sobre o Plano de Mobilidade Urbana

Por Jane Barbosa e Jordana  Costa

Nos dias atuais a temática da mobilidade urbana tem aparecido frequentemente no discurso do Governo, bem como nos textos das políticas de planejamento por ele formuladas. Em Natal/RN a temática ganha força com a realização da Copa do Mundo de 2014, tendo em vista a sua escolha como uma das cidades-sede. Desse modo, a elaboração de um plano de mobilidade urbana voltado a garantir a circulação de pessoas e mercadorias tem se constituído como um elemento importante no planejamento do poder público local.

O Plano de Mobilidade Urbana de Natal/RN conta com a participação do Governo Federal (Ministério das Cidades) Contratos de repasse e financiamento; Caixa Econômica Federal (análise e acompanhamento); Prefeitura Municipal do Natal; Consórcio EBEI / MWH5; EIT (Empresa Industrial Técnica S/A); e prevê a construção de 4 grandes obras, a saber: Construção do aeroporto de São Gonçalo do Amarante; Reforma do terminal rodoviário; Reforma do terminal de passageiros do porto; Reestruturação de vias no entorno e que darão acesso ao complexo Arena das Dunas.

O discurso dos benefícios que a Copa do Mundo proporcionará a Natal/RN tem como principal foco o legado que as obras de mobilidade urbana deixarão para a cidade. É evidente que a população anseia por obras e políticas sociais e de infraestrutura. Porém, é necessário refletir, até que ponto tais legados não serão uma forma de acentuar as desigualdades socioespaciais.

Com vistas a garantir a realização dessas obras o Programa ProCopa Arenas (BNDES) aprovou um total de R$396,5 milhões para a construção do Estádio Arena das Dunas que corresponde a 75% do valor da obra. No âmbito do Programa BNDES ProCopa Turismo, voltado à ampliação e modernização do parque hoteleiro nacional, aprovou-se ainda o valor de R$ 10 milhões para a implantação de uma unidade do Hotel Ibis, bandeira da rede Accor, que será erguido no bairro de Lagoa Nova, próximo à Arena das Dunas. O financiamento do BNDES corresponde a 56% do investimento total.

É importante destacar que aliada à ação pública há um conjunto empresas de capital nacional e internacional, à exemplo da construção do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante.  As empresas Infravix (Engevix Engenharia S/A) e a Corporación América ganharam através de consórcio o direito de construir, manter e explorar o aeroporto, por meio da apresentação de uma proposta de R$ 170 milhões. A Engevix atua na elaboração de estudos, projetos, integração e gerenciamento na área de energia, indústria e infraestrutura desde 1965. Já a Corporación América é uma holding de capital argentino, tendo iniciado suas atividades na indústria têxtil e posteriormente expandiu para os setores de comunicação, aeroportos, infraestrutura, energia, agroindústria e serviços.

Em se tratando da Reforma do Terminal de Passageiros do Porto de Natal/RN, a empresa Constremac Construções LTDA, criada em 1986 para atuar no setor de obras de engenharia foi contratada através de processo licitatório pela Companhia de Docas do Rio Grande do Norte (CODERN). O contrato firmado é de R$ 49.321.019,00.

Já no que se refere as obras rodoviárias, elas serão executadas pelo Consórcio EBEI/MHW Brasil e pela Empresa Industrial e Técnica S/A (EIT), tendo como fonte de recursos Governo Federal (Financiamento da Caixa Econômica Federal), Governo Estadual e Governo Municipal.

Nesse processo também tem destaque as Parcerias Público Privadas (PPP) – caso do Projeto Arena das Dunas (construção do estádio). A parceria é com a Construtora OAS LTDA, empresa brasileira fundada em 1975 com forte atuação na construção de infraestruturas no território nacional com ênfase em obras de canais, extensão de túneis e rodovias. O custo estimado total da parceria é de R$ 400.000.000,00. Ressalte-se ainda, o importante papel de financiador que o BNDES tem na realização desta obra através do Programa BNDES ProCopa Arenas aprovando um total de R$396,5 milhões para a construção do Estádio Arena das Dunas, correspondente a 75% do valor da obra.

Desse modo é possível perceber que a aplicação do dinheiro público direcionado ao fortalecimento da iniciativa privada na Cidade de Natal/RN é uma realidade. Há uma forte presença de diversos agentes nacionais (empresas e governo) e internacionais, como a empresa argentina Corporación América.

Em se tratando de uma cidade que tem no turismo o carro-chefe da economia, percebe-se que as ações previstas no planejamento para a realização da Copa do Mundo 2014 parecem ter como prioridade a ligação aeroportos – rodoviária – estádio – setor hoteleiro, pois serão os principais trajetos percorridos pelos que virão assistir aos jogos. Tais ações reafirmam uma política de construção de uma “cidade ilusória”, onde a pobreza fica cada vez mais escondida e distante dos olhos dos turistas.

Nesse sentido, lança-se a questão: – A constituição de políticas formuladas para o uso do território de todos e não privilégio de alguns, não deveria permear as ações do Estado? 

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Jane Barbosa é doutoranda em Geografia Humana na FFLCH  da USP.
Jordana Costa é mestre em geografia pela UFRN.

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