quarta-feira, 3 de outubro de 2012

ELEIÇÕES 2012: DESAFIOS À GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE EM NATAL/RN

Por Luciana Feitosa


No dia 7 de outubro de 2012 a população brasileira escolherá os seus representantes para os cargos de Vereador e Prefeito nos 5.566 municípios brasileiros. Em Natal, o posto máximo da gestão municipal é disputado por seis candidatos de diferentes partidos: Roberto Lopes (PCB), Carlos Eduardo (PDT), Rogério Marinho (PSDB), Hermano Morais (PMDB), Robério Paulino (PSOL) e Fernando Mineiro (PT).

As divergências propositivas dos candidatos parecem sumir quando o assunto é a reestruturação e a capacidade resolutiva do Sistema Único de Saúde. Em entrevista concedida à série “Propostas para Natal” do jornal Tribuna do Norte, que foi veiculada no dia 9 de setembro de 2012 e abordou o tema saúde, todos foram unânimes em apontar soluções que priorizem o fortalecimento da atenção básica e a gestão eminentemente pública da rede de serviços do SUS no território municipal. (confira a entrevista completa clicando aqui).

Dos seis candidatos que concorrem à prefeitura de Natal, todos assinalam a reestruturação da rede de Atenção Básica como ponto de partida para a resolução dos problemas da saúde municipal. De acordo com dados do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde (DAB/MS), entre janeiro de 2009 (início do mandato da atual prefeita Micarla de Sousa) e agosto de 2012 (último consolidado de informações disponibilizadas pelo site do DAB), a cobertura populacional da Estratégia Saúde da Família no município de Natal caiu de 43,68% para 26,38%.

Os números revelam uma desassistência na rede que tem a capacidade de resolver sozinha 80% dos problemas de saúde da população, o que a torna área prioritária de gestão em saúde.

Para Roberto Lopes (PCB), as demandas da Atenção Básica serão solucionadas com a criação de novos postos de saúde e fornecimento de medicamentos para as unidades. Carlos Eduardo (PDT) pretende ampliar a cobertura populacional da Estratégia Saúde da Família e reequipar as unidades de saúde existentes.  Rogério Marinho (PSDB), por sua vez, entende que o gargalo da saúde em Natal está na falta de regulação eficiente das demandas que saem da Atenção Básica para a Média Complexidade e Alta Complexidade, o que causa uma sobrecarga na rede especializada municipal. Já Hermano Morais (PMDB), aposta nas políticas preventivas como forma de melhoria da gestão do SUS. O candidato Robério Paulino (PSOL) propõe o reequipamento das unidades de saúde e a motivação emocional e salarial dos funcionários como medidas a serem tomadas para a reestruturação dos serviços de saúde do SUS em Natal. Por fim, Fernando Mineiro (PT) aposta na expansão da Estratégia Saúde da Família nas áreas prioritárias da capital (sobretudo as de baixo poder aquisitivo) e na criação em cada região da cidade de Policlínicas que respondam pela demanda especializada dos procedimentos oriundos da Atenção Básica.

Apesar da boa intencionalidade das propostas, o que chama a atenção no depoimento dos candidatos é a falta de um raciocínio que leve em conta o componente territorial como elemento principal para a administração do Sistema Único de Saúde em Natal. O componente territorial diz respeito à oferta integrada de bens e serviços essenciais independente de onde a população resida e à gestão adequada dessa rede de serviços. Somente assim todos os lugares do território poderão ser planejados para as pessoas a partir de suas reais necessidades.

No ano de 2010, um estudo realizado pelo Grupo de Pesquisa Territorium constatou que a falta de cobertura total da Estratégia Saúde da Família nas regiões administrativas Norte e Oeste de Natal (as mais populosas e de menor poder aquisitivo), associada à má distribuição territorial das demais unidades de Atenção Básica espalhadas pela capital, gerava um fluxo de deslocamento dos usuários no sentido Norte/Sul e Oeste/Sul, uma vez que das 16 unidades que ainda não possuíam equipes da Saúde da Família e respondiam pela demanda dos 467.385 moradores de Natal fora da cobertura do programa, 7 estavam localizadas somente na Região Administrativa Sul.

Nas regiões Norte e Oeste restavam apenas 4 e 1 unidades, respectivamente, para responder pela demanda de uma população de 219.712 pessoas sem acesso às equipes de Saúde da Família, conforme pode-se visualizar no mapa abaixo. Para o mês de agosto de 2012, a estimativa de população coberta disponibilizada no site do DAB foi de apenas 213.900 pessoas, o que aumenta a sobrecarga de demanda na rede de atenção básica tradicional.

Esses números mostram que a gestão eficiente do Sistema único de Saúde em Natal depende, primeiramente, do reconhecimento de onde se localizam os serviços e de onde estão as pessoas que dele necessitam, o que não foi percebido na fala de nenhum dos candidatos. É fundamental que um Prefeito considere o elemento territorial como balizador de discursos, propostas e práticas de planejamento municipal.


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Luciana Feitosa é mestranda no Programa de Pós Graduação em Geografia da UFRN.

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