quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS TECNOLOGIAS DE ACESSO À INTERNET NO RIO GRANDE DO NORTE

Por  Ludmila Girardi

A internet progride rumo a um profundo enraizamento na vida das sociedades. O uso global da internet em práticas e realizações de grupos, instituições e indivíduos têm se consolidado na medida em que o acesso tende a um ideal de universalização. Considerando a distribuição regional e estadual, ocorreram mudanças na estrutura e na distribuição do acesso à internet no Brasil entre os anos 2000 e 2010 como indicam as taxas de crescimento anual dos acessos e distribuição das tecnologias de acesso (ANATEL, 2011a). Em 2010, apenas 26% (15,4 milhões) do total de domicílios brasileiros (58,6 milhões) possuíam acesso fixo à internet, numa estrutura que reproduz as históricas desigualdades regionais do Brasil.

As assimetrias dos acessos à internet no território nacional são evidentes nos dados (ANATEL, 2011a), que apontam grande quantidade de acessos por domicílios na região Sudeste (9,6 milhões), em especial o Estado de São Paulo que sozinho possui mais de 6 milhões de domicílios atendidos, e, no outro extremo, a escassez de acessos na região Norte (333 mil), em que o Amapá, Estado com menor número de acessos do país, que não chega a quatro mil domicílio com internet no total. A Região Sul possui 2,8 milhões de domicílios atendidos com internet banda larga fixa e o Centro-Oeste por volta de 1,2 milhões, similar à região Nordeste, que tem 1,4 milhões de domicílios atendidos, mas esta região possui três vezes mais domicílios do que a região central brasileira. Na região Nordeste, a Bahia (412 mil), o Ceará (275 mil) e o Estado do Pernambuco (255 mil) se destacam na quantidade de acessos, mas os últimos dois, Ceará e Pernambuco são bem menos populosos.

O Rio Grande do Norte possui quase 86 mil domicílios com acessos à internet e, entre os municípios potiguares, a cidade do Natal, capital do estado, é aquela com maior número de conexões (270.881), seguido de Mossoró (86.629), Parnamirim (74.867) e São Gonçalo do Amarante (28.490). É possível afirmar que somente estes 4 municípios têm mais do que 10% de acessos à internet por domicílio, sendo que Natal é o único município que chega a ter mais de 20%, com densidade de 28,5%. Em contrapartida, 38 municípios não chegam a possuir nem 1% de acesso à internet, ao passo que três deles, Francisco Dantas, Venha-Ver e Caiçara do Norte não possuíam nenhum acesso ao fim de 2010.

Diante desta assimetria de domicílios atendidos com internet, em nível nacional, regional e local, nos propomos a realizar uma análise da distribuição da internet no Rio Grande do Norte a partir dos dados coletados da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL, 2011b) que apontam a origem (localização da sede) das prestadoras de serviços de acesso à internet no território potiguar e os tipos de tecnologias de acesso que essas empresas fornecem aos municípios do Estado. Estes dados são indicadores de exploração e fruição de Serviços de Comunicação Multimídia (SCM)[1] por empresas prestadoras de serviços de telecomunicações autorizadas pela Anatel a atuar, no regime privado, nos municípios brasileiros. Os dados são disponibilizados online pelo Sistema de Coleta de Informações (SICI), que é alimentado pelas próprias prestadoras. Os dados coletados foram organizados em planilhas com referência a variável espacial contida nos dados, ou seja, em quais municípios do Rio Grande do Norte atuam quais prestadoras e quais tecnologias de acesso elas oferecem, tendo como objetivo desta sistematização a produção cartográfica, por meio do software livre “Philcarto”, considerando métodos de mapeamento temático (ACHELA e THÉRY, 2008).

Para a construção dos mapas da figura 1, optou-se em espacializar a distribuição das tecnologias de acesso pelas respectivas prestadoras de serviços de internet que atendem o Rio Grande do Norte, as quais foram classificadas e agrupadas segundo a localização das suas sedes (conforme trabalho anterior publicado nesta coluna). A variável visual de separação escolhida foi a cor e, como não havia disponível nos dados coletados a quantidade de acessos por tecnologia em cada município, mas somente o total de acessos por tecnologia em todo o Estado, optamos em utilizar a variável visual tamanho para representar graficamente a proporção de cada uma, já que observamos que a tecnologia pode ser bem distribuída mas possuir poucos acessos, como é o caso do Satélite.

As tecnologias de acesso à internet podem ser definidas como o conjunto de equipamentos que permitem a ligação adequada dos usuários à rede principal (backbone), de modo a obter acesso a um conjunto de serviços com adequada qualidade de serviço (NUNES, 2005, p. 2). Há atualmente uma diversidade de tecnologias utilizadas no Brasil, cuja classificação adotada pela Anatel se refere a dezesseis tipos: ATM, xDSL, Cable Modem, Ethernet, HFC, FR, FWA, MMDS, Spread Spectrum, Wimax, Satélite, Fibra Óptica, FTTH, DTH, PLC e Híbrido. Dos quinze tipos de tecnologias de acesso presentes no Brasil, sete são utilizadas no Rio Grande do Norte (xDSL, Cable Modem, FWA, Spread Spectrum, Satélite, FTTH e Híbrido), sendo a mais difundida a tecnologia xDSL, seguida da Cable Modem, que são também as que mais geram acesso à internet no território nacional.

Conforme observamos nos mapas, a tecnologia xDSL está espalhada por todo o território potiguar, enquanto que a tecnologia Cable Modem possui muitos acessos, mas baixa penetração na UF, uma vez que apenas os municípios de Natal e Parnamirim possuem este tipo de tecnologia de acesso à internet. A xDSL, que representa praticamente 60% dos acessos à internet no Rio Grande do Norte, é oferecida massivamente pelas prestadoras com sede no Rio de Janeiro (Grupo Oi) e, em menor medida, por aquelas com sede no Distrito Federal (Embratel). Observamos no mapa que a Embratel é a prestadora que oferece mais variados tipos de tecnologias no Estado, só não fornece acesso por meio Híbrido e Cable Modem. As prestadoras com sede em São Paulo também oferecem serviços variados, sendo notável a oferta de acesso à internet por FTTH, tipo de tecnologia que utiliza backbone de fibra óptica, proporcionando um acesso eficiente em banda larga. De todo modo, esta tecnologia é muito capilarizada pelas prestadoras do Rio de Janeiro, que utilizam as redes de telefonia para disponibilizar velocidade maior de internet banda larga. O acesso via Satélite, notadamente pelo seu modo de transmissão, possui alta capilarização no território, mas parece pouco aproveitado, na medida em que realiza poucos acessos no Estado.

As prestadoras locais e regionais oferecem acessos basicamente por Espalhamento Espectral, com inexpressivas ofertas de serviços por Satélite, Híbrido e FTTH. A tecnologia Espalhamento Espectral, cujo meio de transmissão é por enlace via rádio, é capilarizada no interior do Estado, notadamente nas microrregiões de Mossoró e Seridó, além da presença na microrregião da capital do estado. Há a exceção da tecnologia Cable Modem, que é oferecida por apenas uma prestadora com sede em Natal, a empresa CaboTelecom, mas que concentra sua oferta de serviços na própria Natal e na vizinha Parnamirim, onde está localizado o Aeroporto Internacional Augusto Severo. Não é apenas a pouca variedade de tecnologias que se nota nos mapas das prestadoras locais e regionais, mas também baixa capilarização dos serviços nos municípios potiguares, se comparado às ofertas das prestadoras com sede nos centros de gestão do território nacional.

Este estudo identificou uma distribuição desigual de acessos à internet tanto no Rio Grande do Norte,  que se assemelha às tradicionais desigualdades nacionais, uma vez que as tecnologias de acesso estão concentradas nos centros econômicos do Estado e pouco difundidas nas periferias, notadamente da microrregião do litoral nordeste, bem como, por exemplo, no Médio Oeste e no Seridó Ocidental. Os mapas ilustram a concentração das redes e das tecnologias pelas prestadoras com atuação nacional (RJ, DF, SP), enquanto que as prestadoras locais atuam expressivamente com uma tecnologia que, dependendo da frequência, não necessita de autorização da Anatel para sua implantação. Quer dizer, esses centros e essas periferias são reforçadas pela própria rede de comunicação, que reafirma as configurações territoriais anteriores, mas também cria novas, aprofundando e modificando dinâmicas socioespaciais.


                                                 Figura 01
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Ludmila Girardi é Mestranda em Geografia Humana pela FFLCH-USP.



[1] A Anatel define Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) como o conjunto de serviços fixos de telecomunicações de interesse coletivo, prestado em âmbito nacional e internacional no regime privado, que possibilita a oferta de capacidade de transmissão, emissão e recepção de informações multimídia (dados, voz e imagem), utilizando quaisquer meios, a assinantes dentro de uma área de prestação de serviço. 

BIBLIOGRAFIA


ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações). Dados informativos da Banda Larga Fixa. Informações e Periodicidade dos indicadores, 2011a. Disponível em: http://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.asp?numeroPublicacao=257088&assuntoPublicacao=Dados%20informativos%20-%20Banda%20Larga&caminhoRel=null&filtro=1&documentoPath=257088.pdf. Acesso em 03/09/2011.

ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações). Relatório de Autorizadas Presentes nos Municípios. Sistema de Coleta de Informações (SICI), 2011b. Disponível em: http://sistemas.anatel.gov.br/sici/. Acesso em 03 de setembro de 2011.

ARCHELA, ROSELY S.; THÉRY, Hervé. Orientação metodológica para construção e leitura de mapas temáticos. Confins Revues, nº 3, 2008. Disponível em: http://confins.revues.org/3483?&id=3483#tocto1n1]. Acesso em 25 setembro de 2010.
NUNES, M. S. Redes Digitais com Integração de Serviços. Lisboa: Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, 2002.

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