mapas temáticos da distribuição segundo a origem, a quantidade e a densidade de atuação das prestadoras de serviços nos municípios riograndenses
Por Ludmila Girard
A
formação territorial brasileira é marcada por desafios quanto ao conhecimento
do meio geográfico e do uso do vasto e heterogêneo território, notadamente no
período atual, em que novos conteúdos de técnica, ciência e informação são implantados
como elementos condicionantes da organização da produção nos moldes do
capitalismo contemporâneo. Estes desafios são postos no exame das redes de
comunicação no território, notadamente as digitais, via internet, uma vez que é
notável seu papel de elo e meio de comando das atividades econômicas externamente
localizadas aos lugares, sendo portanto pertinente analisá-las sob sua “função
na gestão territorial”, pois participam na concentração das sedes das
corporações “onde se dá a gestão do processo de criação do valor e criação,
circulação e apropriação da mais-valia em amplo espaço geográfico” (CORRÊA, 1996:68).
As redes de comunicação são recursos do território, criadoras de “meios
híbridos de produção, circulação e inovação”, uma vez que é “meio inovador”,
isto é, fonte de vantagens competitivas territorialmente construídas (PIRES DO
RIO, 2012:171-179). As redes de comunicação por internet integram digitalmente
o território, sendo fundamento geográfico do controle das atividades e dos
circuitos produtivos nacionais, mas também da desigualdade social brasileira,
uma vez que não só responde à unificação dos mercados regionais, mas também na
manutenção da soberania em todas as porções do território (CASTILLO, 1999).
Partindo
de um enfoque teórico-metodológico sobre a gestão territorial, foram coletados dados
da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL, 2011a) que apontam a origem
(localização da sede) e a distribuição das prestadoras de serviços de acesso à
internet no território potiguar. Estes dados são indicadores de exploração e fruição de Serviços
de Comunicação Multimídia (SCM) [1] por empresas prestadoras
de serviços de telecomunicações autorizadas pela Anatel a atuar, no regime
privado, nos municípios brasileiros. Os dados são atualizados mensalmente e
disponibilizados online pelo Sistema de Coleta de Informações
(SICI), que é alimentado pelas próprias prestadoras. Os dados coletados se referem
ao mês de outubro de 2011 e foram organizados em planilhas com referente da
variável espacial contida nos dados, ou seja, em qual(is) município(s) do Rio Grande
do Norte atua(m) qual(is) prestadora(s), tendo como objetivo desta
sistematização a produção cartográfica por meio do software livre “Philcarto”,
que associa uma base cartográfica a uma base estatística de dados.
Para
a construção dos mapas da figura 1,
foram organizadas variáveis que pudessem trazer subsídios à análise da gestão
da internet no território potiguar e que pudessem ser representadas sobre a
base cartográfica, considerando métodos de mapeamento temático (ACHELA e THÉRY,
2008). As variáveis se referem: (1) à origem das prestadoras, classificadas e
agrupadas segundo a localização da sede; (2) à distribuição da prestação de
serviços, segundo a quantidade de prestadoras por município; (3) à densidade da
atuação, segundo a relação entre o total de serviços prestados e o total de
municípios atendidos por grupo de prestadoras.
Foram
identificadas um total de 35 prestadoras de serviços de internet no Rio Grande
do Norte, provenientes de 17 municípios brasileiros, 9 Estados e 4 Regiões [2]. Elas
foram agrupadas pela origem da sede, levando em consideração as macrorregiões
brasileiras, mas também a possibilidade de comparação da distribuição entre as escalas
de origem das prestadoras (local, regional, nacional): (1.1) Prestadoras do
Estado de São Paulo; (1.2) Prestadoras do Estado do Rio de Janeiro; (1.3)
Prestadoras do Distrito Federal; (1.4) Prestadoras das Regiões Sul e Sudeste
(exceto SP e RJ); (1.5) Prestadoras do Rio Grande do Norte (exceto Natal);
(1.6) Prestadoras do município de Natal; (1.7) Prestadoras da Região Nordeste
(exceto RN). Este agrupamento também considerou a quantidade de prestadora por
origem: São Paulo é o Estado com mais prestadoras atuando no território
potiguar (12), seguido do Rio de Janeiro (6), do município de Natal (5), e com
mesmo número o Rio Grande do Norte (3), o Distrito Federal (3), Região
Sul-Sudeste (3) e Região Nordeste (3).
Optou-se
então em espacializar a presença e quantidade de cada grupo de prestadora por
município no Philcarto, pela
utilização de círculos proporcionais no modo de implantação zonal, para gerar
mapas sujeitos de comparação, mas não somente da distribuição dos grupos de
prestadoras de serviços, mas da densidade de prestação de serviços nos
municípios. Assim, na coleção de mapas da figura
1,
a densidade de
atuação dos grupos de prestadoras foram ordenados pela variável visual valor,
pela utilização do “dégradé”, isto é, seqüência de tons
contínuos. Para o cálculo da densidade da atuação, observou-se a
quantidade de prestação de serviços por grupo de prestadoras e a quantidade de
municípios que cada grupo atua, relacionando essas variáveis com o propósito de
identificar a concentração ou a dispersão dos serviços prestados.
O
Rio de Janeiro é o estado com mais prestação de serviços (198), seguido por São
Paulo (192), Distrito Federal (152), Rio Grande do Norte (26), Natal (18),
Região Sul-Sudeste (8) e Região Nordeste (2). O Rio de Janeiro é também quem
atua em mais municípios (159), seguido do Distrito Federal (150), São Paulo
(130), Rio Grande do Norte (25), Natal (11), Região Sul-Sudeste (8) e Região
Nordeste (3). A partir dessas informações, calculou-se a densidade de atuação,
que apresentou alta concentração de atuação das prestadoras, respectivamente,
com sede em Natal (1,60) e São Paulo (1,47), média concentração das prestadoras
com sede no Rio de Janeiro (1,24), enquanto que as prestadoras do Distrito
Federal (1,01) têm sua atuação mais dispersa, assim como aquelas do Rio Grande
do Norte, Regiões Sul, Sudeste e Nordeste (1,00).
Conforme se observa
na coleção de mapas da figura 1,
entre as prestadoras de São Paulo, é notável a concentração de operadoras em
três municípios: Natal, Mossoró e Santa Maria, este último ainda mais notável
devido a sua baixa densidade demográfica e importância econômica no Rio Grande
do Norte. Além de São Paulo, este município ainda conta com a atuação de uma
operadora do Rio de Janeiro e uma proveniente da Região Sul, precisamente do
município de São Gabriel, no Rio Grande do Sul, que só possui um único cliente
em todo o território potiguar, localizado em Santa Maria. Este
caso ilustra a dispersão observadas nos mapas das prestadoras das Regiões Sul,
Sudeste e também do Nordeste, que têm atuação insignificante no território, pois
atuam localmente. No que tange a atuação das operadoras locais, com sede em
Natal e no Rio Grande do Norte, se nota que as operadoras natalenses
concentram-se na faixa litorânea, enquanto que aquelas riograndenses
espalham-se pelo interior, nas regiões do Seridó potiguar e do município de Mossoró.
Notável é, no entanto, a baixa densidade de prestação de serviços de internet
no nordeste do estado que, comparado ao mapa rodoviário, observa-se também a
falta de rodovias nessa área do estado, onde está o município de Caiçara do
Norte, o único a não ter presença de nenhuma operadora de serviços de internet.
É importante frisar que são apenas algumas
prestadoras representativas na quantidade de prestação de serviços. Do Rio de
Janeiro, somente a prestadora “Telemar
Norte S.A.” (que utiliza a marca Oi)
está presente em 158 municípios e, do Distrito Federal, somente a prestadora “Empresa Brasileira De Telecomunicações S. A.”
está presente em 149 municípios. De São Paulo, a densidade significativa de
serviços prestados é dividida entre a prestadora “BT Brasil Serviços De Telecomunicações Ltda.”, presente em 92
municípios, e a “Primesys Soluções
Empresariais S.A.”, em 76. No Rio Grande do Norte, são notáveis em
distribuição a “Star Conect Telecom Ltda”,
de Currais Novos, presente em 9 municípios, e a “M4 Net Acesso Rede De Comunicação Ltda Me”, de Santa Cruz, em mesma
quantidade, seguidas da prestadora “Mach4
Telecomunicações Comercio E Serviços Ltda Me”, de Natal, presente em 7
municípios, a prestadora mais distribuída da capital potiguar.
Segundo dados de competição no Rio Grande do
Norte, a Oi (Telemar Norte S.A.), do
Rio de Janeiro, é quem detêm maior fatia do mercado de telecomunicações, com
mais de 52% dos acessos à internet, sendo sua principal concorrente a empresa “Cabo Serviços De Telecomunicações Ltda”,
com sede em Natal, que possui pouco mais de 37% do mercado, e é a única
prestadora a oferecer serviços de internet pela tecnologia de acesso “Cable Modem” (ANATEL, 2011b). A prestadora
Cabo iniciou suas operações com banda
larga em agosto de 2001, um ano antes da chegada da Oi em Natal, sendo estas
duas prestadoras o referencial de banda larga no município, e a Oi no resto do
estado junto com a Embratel. Estas duas prestadoras são as detentoras de backbone no estado do Rio Grande do
Norte, ou seja, elas possuem a infraestrutura necessária para ampliar a
capilaridade da rede no território potiguar e comercializam pontos (links) da sua rede para outras
prestadoras que desejam atuar no mercado de banda larga.
Os tipos de tecnologias de acesso de cada
grupo de prestadora presente no Rio Grande do Norte são essenciais na
perspectiva de se retirar conclusões mais sólidas quanto a gestão das redes de
comunicação no território potiguar. Portanto, em continuidade à presente
análise, serão apresentados, num próximo artigo, mapas da distribuição das
tecnologias nos municípios por grupos de prestadora, considerando a mesma
classificação, por origem. O tipo de tecnologia oferecido por cada grupo de
prestadora é determinante na formulação de um parâmetro de análise da gestão do
território, uma vez que cada tecnologia de acesso possui características
próprias, que auxiliam a revelar o nível de distribuição e a capilaridade da
internet no território, ao serem confrontados dados por meio da produção de
mapas comparáveis.
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[1] A Anatel define Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) como o conjunto de serviços fixos de telecomunicações de interesse coletivo, prestado em âmbito nacional e internacional no regime privado, que possibilita a oferta de capacidade de transmissão, emissão e recepção de informações multimídia (dados, voz e imagem), utilizando quaisquer meios, a assinantes dentro de uma área de prestação de serviço.
[2] Região Nordeste: Rio Grande do Norte (Natal, Mossoró, Santa Cruz, Currais Novos), Paraíba (São João do Rio do Peixe, Sumé) e Bahia (Castro Alves); Região Sul: Paraná (Pinhais) e Rio Grande do Sul (São Gabriel); Região Sudeste: São Paulo (São Paulo, São José do Rio Preto, Cotia, Campinas), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, Angra dos Reis): e Minas Gerais (Belo Horizonte); Região Centro-Oeste: Distrito Federal (Brasília).
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Ludmila Girardi é mestranda em geografia humana FFLCH-USP
Bibliografia
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Telecomunicações). Relatório de
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em: http://sistemas.anatel.gov.br/sici/. Acesso em 03 de setembro de 2011.
ANATEL (Agência Nacional de
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em: http://www.anatel.gov.br. Acesso em 15 de novembro de 2011.
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SANTOS,
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