Por Ricardo Castillo
20/07/12
20/07/12
É de conhecimento geral que o termo logística tem sua
origem nas operações militares, designando, nesse sentido, as estratégias de
armazenamento e transporte para o abastecimento de tropas (alimentos, água,
material médico, munição, diversos tipos de equipamentos), no momento e
no lugar certos, pressupondo o planejamento e a coordenação das ações.
A convergência entre as características da logística em seu sentido
original e os pressupostos do atual paradigma produtivo fez com que o termo
fosse adotado em seu sentido prático (pelas grandes empresas) e teórico (pelas
escolas de administração) como designativo da racionalidade de fluxos materiais
que envolvem as cadeias produtivas desde a segunda metade do século XX.
A partir dos anos 1970, a reestruturação dos processos produtivo e
comercial (nova lógica de localização das atividades econômicas, desintegração
vertical das grandes empresas, terceirização de funções industriais e de
serviços, just in time / just in place) criou as
condições e a demanda para a implementação de estratégias de racionalização de
fluxos materiais que cresciam exponencialmente em todas as escalas geográficas,
entronizando a logística (empresarial) como expressão dessas estratégias.
A prática do gerenciamento das cadeias de suprimento (supply chain
management - SCM) foi prontamente associada aos chamados "fluxos
logísticos" (materiais, financeiros e informacionais), como síntese de
estratégias e operações necessárias para a plena integração das cadeias
produtivas. A figura 1 procura representar essa integração.
A racionalização dos fluxos de insumos, matérias-primas e produtos
intermediários (cadeia ou logística de suprimentos), bem como dos produtos para
o consumo final (cadeia ou logística de distribuição) passou a exigir
estratégias que alcançam a escala dos mercados internacionais. Essas
estratégias econômico-territoriais (produto certo, na quantidade, hora e lugar
certos ao menor custo possível), antes consideradas custos inevitáveis,
passaram a ser fator de competitividade e a ser expressas pela ideia de logística
que, assim, passou por uma renovação conceitual.
De maneira geral, as inúmeras propostas de definição de logística
entendem o termo como o conjunto de processos, procedimentos, ações e
estratégias, objetivando organizar ou otimizar o movimento de produtos dentro
das cadeias de suprimento e distribuição, desde o fornecimento de insumos até o
consumo final, incluindo os processos reversos de reciclagem de materiais e de
serviços pós-venda.
Por trás dessas definições está o fato de que a logística não se
restringe ao transporte e armazenamento, mas abrange outras atividades
importantes, vinculadas, principalmente, ao controle dos fluxos e à manipulação
dos produtos.
De acordo com Novaes (2001), no conjunto de atividades de competência da
logística, destacam-se:
Transporte: uso dos
diversos modais, isolada ou combinadamente; just in time;
rastreamento e monitoramento de veículos;
- Armazenagem:
convencional ou fundamentada no conceito de gerenciamento de estoques, com
apoio das tecnologias da informação;
- Manipulação de produtos:
embalagem, identificação, composição de kits etc.;
- Operações industriais:
montagem final, testes de qualidade;
- Operações comerciais e
burocráticas: recebimento e tratamento de pedidos, pagamentos, importação
e exportação, assessoria aduaneira, serviço de atendimento ao consumidor;
- Consultoria: engenharia e
administração logística, desenvolvimento de projetos e soluções
logísticas.
Esse conjunto de atribuições tornou a logística um verdadeiro setor da
economia, de maneira que a terceirização de serviços logísticos é uma tendência
que vem consolidando diversas categorias de agentes, desde o pequeno prestador
de serviços mais simples (em geral de transportes), até grandes operadores com
competência para atuar em todas as áreas descritas acima, tais como as empresas
Ryder, TNT, DHL, Penske, Danzas, Federal Express, entre outras.
Do ponto de vista geográfico, cumpre reconhecer que a logística reúne
três categorias de atributos: tecnologias infraestruturais (modais
de transporte e seus terminais, sistemas de telecomunicações, armazéns,
Estações Aduaneiras do Interior etc.), sistemas normativos e
regulatórios (concessões de serviços públicos a empresas privadas,
regimes fiscais, leis locais de trânsito, pedágios, regulações locais para
carga e descarga, restrições para circulação de veículos de grande porte em
determinadas áreas de grandes cidades etc.) e competências estratégicas
e operacionais (conhecimento especializado sobre as variáveis
infraestruturais e normativo-regulatórias), na forma de prestação de serviços.
Esses atributos envolvem particularmente o Estado (em suas diversas escalas de
atuação) e os operadores logísticos, reunindo objetos e ações capazes de
ampliar a fluidez potencial (SANTOS & SILVEIRA, 2001) e a mobilidade
espacial sobretudo das empresas do circuito superior da economia (SANTOS,
2004). Segundo Xavier (2009, p. 104),
a logística corresponde a um subsistema de objetos e ações
exclusivamente dedicado à circulação material, coordenado pelo correlato fluxo
de informações, capaz de ampliar a produtividade dos lugares e regiões para
determinadas empresas, permitindo-lhes uma maior competitividade em função de
ganhos de fluidez em suas operações.
Nessa abordagem, a competitividade deixa de ser apenas um atributo das
empresas ou de atividades econômicas e passa também a se expressar em frações
do espaço, através de intervenções materiais e densidades normativas. A
logística passa então a fazer parte integrante das condições de competitividade
de um lugar, uma região ou um território.
Em suma, a logística envolve estratégias competitivas das empresas, é um
elemento da competitividade espacial, uma política territorial dos Estados, um
setor de atividade econômica e, também, um discurso que inclui termos como
gargalos, apagões, custo-país e sustentabilidade. Enfim, a logística implica em
um conhecimento detalhado sobre a enorme quantidade de variáveis materiais e
imateriais que caracteriza o lugar, a região e o território nacional, com o
objetivo de racionalizar o seu uso ou neles intervir de forma seletiva para
alcançar competitividade através da circulação.
Figura 1. Cadeia de
suprimentos e cadeia de distribuição
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Ricardo Castillo é
professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Bibliografia
NOVAES, A. C.
Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição: estratégia, operação e
avaliação. Rio de Janeiro, Campus. 2001
SANTOS, M. O espaço
dividido: os dois circuitos da economia urbana nos países subdesenvolvidos. São
Paulo: Edusp, 2004
SANTOS, M.; SILVEIRA,
M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. 2ª Edição. Rio
de Janeiro: Record, (1979) 2001
XAVIER, M. A. M. Os
elos entre os dois circuitos da economia urbana brasileira no atual período :
os atacadistas distribuidores e seu papel intermediador. Tese (Doutorado em
Geografia), Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas.
Campinas,SP.: [s.n.], 2009
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