quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A AGROPECUÁRIA CIENTÍFICA E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL (1995 a 2010)

Por Dalyson Luiz Araújo de Morais

A partir da década de 1970, o espaço agrícola brasileiro passou por um processo de reestruturação do seu sistema produtivo. As principais características dessa reestruturação estão diretamente relacionadas à introdução de inovações técnicas e organizacionais que possibilitam um novo uso do tempo e do solo. No tocante às inovações técnicas, destacamos o emprego de máquinas, insumos químicos e biotecnológicos produzidos e fornecidos pelas indústrias a montante da produção agropecuária. Já as inovações organizacionais, congregam os novos agentes e setores envolvidos com a agropecuária científica e o processo de integração na busca por uma maior racionalidade dos espaços agrícolas modernos. Além disso, o desenvolvimento científico, produto de uma vigorosa pesquisa tecnológica, juntamente com o aumento significativo da formação de profissionais cada vez mais especializados, constitui-se também, imperativos da atual agricultura científica do Brasil.

Dessa maneira, o aumento significativo da oferta de cursos e programas de graduação em universidades públicas e privadas no Brasil, como se poderá averiguar mais adiante, evidencia o componente científico da reestruturação produtiva da agropecuária brasileira no atual período. 

Os dados fornecidos pelo MEC por meio da Sinopse da Educação Superior de 1995 a 2010 nos revelam, dentre outras constatações, o crescimento tanto da oferta como da demanda de cursos e programas de graduação que se remetem ao conhecimento direto das necessidades da agropecuária científica. Aqui iremos analisar a oferta e a demanda da grande área de conhecimento de Ciências Agrárias que a partir do ano de 2000, passou a ser denominada de Agricultura e Veterinária. Os cursos que compõem essas áreas de conhecimento seguem no Quadro 01.

No ano de 1995 foram oferecidos em universidades públicas (federal e estadual) e privadas 194 cursos e programas referentes a grande área do conhecimento de Ciências Agrárias, neste mesmo ano concluíram 5.780 alunos e foram matriculados 47.785. No ano de 1999, último ano em que a grande área do conhecimento de Ciências Agrárias ainda recebia essa denominação, foram ofertados no Brasil 285 cursos e programas, concluíram 6.336 e foram matriculados 62.640 alunos. Houve assim um crescimento de 46,90% de cursos ofertados na rede pública e privada, aumento de 9,71% dos concluintes e 31,08% de matriculados.

Para elucidar a maneira como se dá no território brasileiro a distribuição da oferta de cursos e da formação de profissionais direcionados a agropecuária científica, lançamos mão da cartografia com base nas três variáveis (número de curso superior ofertado, quantidade de concluintes no ano e o número de matrículas realizadas) na grande área de Ciências Agrárias. Sendo assim, os Mapas temáticos a, b, c e d, nos possibilitam entender a distribuição da educação superior voltada para a agropecuária científica no último ano em que a Sinopse da Educação Superior disponibilizou a quantidade de cursos, matriculas e concluintes por estados da federação.

Entre os anos de 2000 e 2010, período em que essa área do conhecimento passa a ser denominada de Agricultura e Veterinária e tem seu currículo reorganizado, novos acréscimos nessas três variáveis podem ser observados. Se no ano de 2000 a rede de ensino superior disponibilizou 288 cursos e programas, concluíram 6.775 alunos e foram matriculados 63.260, no ano de 2010 já existiam 790 cursos e programas de graduação, concluíram 18.094 alunos e foram matriculados 142.882 alunos. Dessa maneira, podemos perceber que houve um acréscimo de 174,30% na oferta de cursos e programas, 167,07% nos concluintes e 125,86% de alunos matriculados.

Os números são ainda mais significativos quando comparados os anos de 1995 e 2010. Destarte, podemos averiguar um acréscimo de 307,21%, 213,04% e 199,01% de cursos ofertados, de concluintes e matriculados respectivamente, nos cursos e programas que compreendem a antiga grande área do conhecimento de Ciências Agrárias e a atual Agricultura e Veterinária, presente em universidades públicas e privadas do Brasil.

Essa breve análise do comportamento da oferta e da demanda por cursos e programas de graduação na área do conhecimento voltado para as atividades que compõem o setor agropecuário brasileiro evidencia, ainda que de maneira singela, a importância do conhecimento científico para o funcionamento dessa atual fase da agropecuária moderna brasileira.

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Quadro 01 – Grande área do conhecimento e cursos diretamente voltados para a agropecuária
Ciências Agrárias (1995 – 1999)
Agricultura e Veterinária (2000 – 2010)
Agronomia; Ciências Agrárias; Engenharia Agrícola; Engenharia da Horticultura; Engenharia de Alimentos; Engenharia de Aquicultura; Engenharia de Pesca; Engenharia Florestal; Horticultura; Indústria da Madeira; Irrigação e Drenagem; Laticínios; Medicina Veterinária; Química dos Alimentos; Tecnologia Agroindustrial; Tecnologia Agronômica; Tecnologia de Alimentos; Zootecnia.
Engenharia florestal; Silvicultura; Horticultura; Agroecologia; Agroindústria; Agronomia; Agropecuária; Engenharia agrícola; Manejo da produção agrícola; Manejo da produção animal; Tecnologia em agronegócio; Tecnologia em cafeicultura; Tecnologia em produção de grãos; Técnicas de irrigação e drenagem; Zootecnia; Aqüicultura; Engenharia de pesca; Tecnologia da produção pesqueira; Medicina veterinária.
Fonte: MEC – Sinopse da educação superior 1995 – 2010.






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Dalyson Luiz é mestrando do Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.


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